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A Construção da espiritualidade

  • Foto do escritor: Fernanda Priminini
    Fernanda Priminini
  • 8 de out.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 9 de out.

Deserto de Fayoum - Egito
Deserto de Fayoum - Egito

Por muito tempo, eu acreditei que espiritualidade, reforma íntima e conexão espiritual fossem algo como acender velas, fazer orações e seguir um ritual com certa regularidade. Resquícios de uma formação católica, onde não buscamos dentro de nós, apenas fora.

Eu era louca para "ver espíritos", "ver sinais externos" — aquela São Tomé mesmo, ver para crer. Assim, minha busca era sempre voltada para o lado de fora de mim, esperando que alguém me trouxesse pronto o que eu deveria fazer ou crer.

E claro, eu nunca consegui ver nada além. Me enganei diversas vezes para poder me encaixar nos grupos, talvez para me sentir especial ou "a diferente". É claro que, quando estamos em grupos, a energia nos seduz e acabamos por ludibriar nossa mente para que o efeito também seja sentido. Mas, quando voltava para casa, o vazio e a falta de resposta ainda estavam ali. O que eu estava fazendo da vida?

Talvez por sempre buscar uma resposta para isso, me aventurei em tantas frentes espiritualistas. Mas, sinceramente, as coisas só começaram a mudar mesmo quando eu finalmente me permiti olhar para dentro de mim. E foi uma das coisas mais difíceis que tive que fazer em minha vida (ainda é). Foi então que encontrei meu deserto — o tal "deserto da Alma". Eu sempre ouvi falar sobre ele, mas sentir… ah! Sentir é outra história.

Sentir o que meu ego sempre fugiu de sentir. Fugir de mim mesma, das minhas sombras, do lado escuro e sombrio que me habita. Descobrir que todo aquele sorriso e excesso de palhaçada, na verdade, eram uma grande fuga de toda a raiva que eu sentia silenciosamente. Um faz de conta de que está tudo bem: "Vamos deixar todos felizes, porque assim alguém vai gostar de mim."

A Ayahuasca foi a porta de entrada para esse novo mundo, rompendo um grande véu de ilusão e delírio que todos nós, em algum grau, vivemos em nossa sociedade "normoide". Aliada à terapia profunda de Jung, uma versão nada interessante minha apareceu, e encarar isso não é nada fácil. São anos brigando com uma persona rígida, dona da verdade, que minha terapeuta chama de "a mulher executiva", enquanto deixava de lado uma "mulherzinha" que não poderia, de forma alguma, fazer parte da minha vida.

Ser mulher, para mim, era ser bem-sucedida financeiramente, ponto. Não havia outra forma possível de ser mulher, o que, na verdade, não tem nada de feminino nisso. Eu estava, de fato, querendo ser homem. Afinal, convenhamos: o mundo para eles parecia ser bem mais leve. Tudo o que vem do masculino é aceito sem questionamentos, enquanto o que vem da mulher, muitas vezes, nunca é bem visto. Somos vistas como a "serpente" que ludibriou Adão (pobre Adão... rs).

Mas nunca é tarde para olhar para o que estava escondido e trancafiado no porão do meu inconsciente.

Ser mulher começou a ganhar um novo significado: a mulher que busca o silêncio, a calma, a delicadeza, o não saber. Esse capítulo da minha história ainda estou escrevendo, com mais lentidão, sentindo cada momento, cada nova descoberta.

Mas Fernanda, o que isso tem a ver com espiritualidade? Pois bem, através desse olhar para dentro de mim, abraçando essa sombra de um feminino machucado e sem espaço para aparecer, estou encontrando minha alma — aquilo que sou realmente, sem necessidade de rótulos, títulos ou reconhecimentos.

Hoje, vejo que a busca pela espiritualidade só é possível a partir desse "dentro", que, na verdade, é todo lugar em que estou.

Ler esse texto pode parecer algo simples — até meio óbvio, não é mesmo? Mas não foi nada fácil. É dolorido, é custoso, é lento (parafraseando minha terapeuta Ana Feres). Requer coragem, pois enfrentar a solidão e os medos de ser rejeitada, abandonada ou não amada permeia o tempo todo nossas atitudes.

São milhares de anos de perseguição e "adestramento" condensados em nossa alma — e isso não se muda da noite para o dia.

E não há garantias de que não irá doer novamente, de que não sentirei medo ou rejeição. Mas, quando eu posso me acolher, me respeitar, me aceitar, a probabilidade de me perder no outro fica cada vez menor.

Hoje, sei mais sobre mim do que sabia ontem — e espero saber ainda mais amanhã.

Essa é a única sabedoria que busco. O que vier disso, é lucro.


Com amor,

Fernanda Priminini


Cerimônia de Ayahuasca
Cerimônia de Ayahuasca
Cerimônia de Ayahuasca - Sítio Vale dos Lobos
Cerimônia de Ayahuasca - Sítio Vale dos Lobos

 
 
 

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