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O Eco Selvagem do Mundo Que Esqueceu de Sentir

  • Foto do escritor: Fernanda Priminini
    Fernanda Priminini
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

Acho que, quando estamos mais conectados com o que acontece dentro de nós, conseguimos observar o mundo por outro ângulo — um olhar simbólico, capaz de revelar nuances e direções que o olhar literal não alcança.


O caso do rapaz Gerson, que entrou na jaula da leoa e teve um fim trágico e profundamente triste, é um desses acontecimentos que abrem brechas no imaginário coletivo. É impossível não reconhecer o peso dessa história: um jovem com um passado sofrido, vulnerável, carregando feridas que o mundo não conseguiu ver, acolher ou nomear. Não se trata — de forma alguma — de minimizar a tragédia; é justamente por sua gravidade que ela se torna um símbolo tão contundente do momento que vivemos.


Pessoas que carregam estruturas psíquicas diferentes, como era o caso dele, muitas vezes funcionam como catalisadores de algo maior — como se, ao invés de “desvios individuais”, fossem expressões cruas da psique coletiva. Elas expõem o que nós, considerados “estruturados” e “normais”, evitamos encarar.


No gesto extremo de Gerson, vejo a encarnação involuntária do Arcano XI — A Força.

No Tarot, esse arcano fala da relação sutil entre Consciência e instinto: não a repressão, mas o diálogo. Não o domínio violento da fera interior, mas o encontro transformador com ela. E é importante lembrar: A Força não é apenas uma imagem, é um arquétipo — é uma travessia inevitável na história da Alma humana.


XI - A Força
XI - A Força

E então, surge a pergunta incômoda: seria Gerson — com toda a dor que atravessa sua história — um mensageiro involuntário de que algo vai muito mal em nosso próprio “reino interno”? Estaríamos nós, como coletivo, cada vez mais afastados da Consciência (com C maiúsculo) e cada vez mais identificados com nossos mecanismos mais primitivos de sobrevivência?


Alejandro Jodorowsky resume de forma precisa:“O trabalho de consciência passa em primeiro lugar pela relação com as forças instintivas.”


E honestamente, qualquer pessoa minimamente desperta sente que algo no humano contemporâneo está profundamente desajustado.

A saúde mental colapsada.

A saúde física comprometida.

A espiritualidade corrompida pelos próprios representantes.

A realidade social e econômica esmagando até quem tenta sobreviver com dignidade.


Muitos falam sobre Transição Planetária e Era de Aquário, mas esse movimento sutil, essencial, acabou transformado em produto, marketing e promessa.

Mas a verdadeira Transição — a real Era de Aquário — não tem nada a ver com espetáculo nem com gurus: ela diz respeito a uma transformação radical da Consciência.

É o universo mostrando, sem meias palavras, que algo está contaminado demais dentro de nós.


E, infelizmente, não teremos Chapolin, Superman ou She-Ra para enfrentar o “vilão”.

Porque o vilão não está fora. O “bandido” é o que projetamos no outro quando não queremos assumir nosso próprio instinto desgovernado, nossa própria sombra.


Para aprofundar esse olhar, a Pirâmide de Maslow oferece uma chave importante. Ela mostra que, quando nossas necessidades mais básicas — fisiológicas, segurança, pertencimento, autoestima — não são atendidas, simplesmente não temos estrutura interna para acessar níveis mais elevados como expansão, propósito ou autorrealização.


Então, fica a pergunta — minha e sua:

Como falar de iluminação, ascensão ou consciência expandida se o básico para a vida não está garantido?

Como exigir produtividade, estabilidade emocional, espiritualidade elevada ou entrega profunda, se tantas pessoas sequer conseguem "respirar" o suficiente para sobreviver?


Estamos tentando alcançar Consciência enquanto ainda estamos sendo engolidos pela sobrevivência. A conta não fecha!


E talvez seja por isso que símbolos como o Arcano XI — e acontecimentos trágicos como o de Gerson — explodam o óbvio diante dos nossos olhos: não dá mais para seguir vivendo desconectados da nossa própria humanidade.

A luta entre o instinto e a busca pela luz está acontecendo agora — dentro de cada um de nós.


Fernanda Priminini

 
 
 

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