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Consagrar, Desfazer, Renascer

  • Foto do escritor: Fernanda Priminini Russo
    Fernanda Priminini Russo
  • há 5 dias
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 3 dias

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Esse fim de semana participei de mais uma roda de consagração da Ayahuasca, um ritual que pratico há 8 anos e que faz parte de todo o meu caminho de autoconsciência.

Tudo começou em 2017. Confesso que foi por curiosidade: eu fazia parte de um grupo de espiritualidade e, diante do relato de uma colega, achei aquilo incrível. E como nada é por acaso, não tardou muito para que o Sítio Vale dos Lobos aparecesse em nosso caminho. Um local que considero sagrado e que, desde então, é onde consagro.

Como uma jovem mística da época, achava que seria a redenção de toda uma busca e que, finalmente, eu estaria na "senda dos ascencionados". Mal sabia que estava apenas iniciando um vórtice de destruição de tudo o que eu conhecia como verdade — incluindo a minha própria concepção de “eu”.

Entrar em contato com essa medicina é um mergulho no desconhecido. Não há nada parecido que possa descrever a experiência de um ritual com a Ayahuasca — o que muitos chamam poeticamente de “vinho da alma”. Essa bebida, combinação das folhas de chacrona com o cipó jagube, fermentada por quase 10 dias à base de muita reza indígena, ganha vida e abre um portal de pura conexão com o próprio inconsciente.

Não sei se a Ayahuasca é para todo mundo — acredito que não. Há certas restrições que devem ser seguidas. Ela também vem sendo objeto de estudo em grandes universidades para casos de depressão profunda, alcoolismo e dependência química. Mas esse não é o lugar para falar de ciência; não é sobre dados ou pesquisas. É sobre o que essa medicina despertou em mim, especialmente quando unida à psicoterapia.

Viemos a este mundo para ampliar nossa Consciência, descobrir do que somos capazes, perceber nossos limites e, acima de tudo, honrar nossas experiências. E, para isso, seremos sempre convidados a mudar a rota, mudar de opinião, descobrir novos sabores, novos estilos, novos lugares, lidar com as dores — e o maior desafio do ser humano é acolher essas dores.

Para uma taurina como eu, isso é desafiador. Mudanças são perturbadoras: tiram nosso eixo, desestruturam nossa segurança. E talvez por isso a Ayahuasca tenha sido, para mim, tão transformadora. Ela me colocou exatamente diante daquilo que eu mais resistia: o movimento, o imprevisível, a entrega. Quando permitimos que isso aconteça, a liberdade de SER quem se é faz com que a vida fique mais leve. Isso não significa que fique mais fácil ou que eu não tenha problemas — afinal, isso faz parte da vida adulta — mas aprendi a me acolher diante dos fracassos, diante das dores, e a enxergar minhas qualidades, meu potencial como ser humano.

Não posso deixar de mencionar que a mudança mais profunda foi aliada à sessões profundas e sinceras de terapia, só reconhecendo a persona (conceito Junguiano para as máscaras adaptativas que criamos para sobreviver a esse mundo insano) rígida, controladora, arrogante que aprendi realmente humildade — a perceber uma falsa forma de me apresentar ao mundo, baseada em dores que eu não queria sentir, e que me privava de realmente enxergar minha verdadeira essência. Não é algo rápido: são 8 anos de trabalho pesado, intenso, profundo e doloroso. Mudanças de atitudes, de lugares, de grupos, de rumos... Não é algo que se resume a um fim de semana de comunhão com o sagrado.

Tenho plena consciência de que estou apenas no início dessa jornada, de que há muito ainda para descortinar, muitas camadas para serem descascadas, muitas sombras para serem reconhecidas e integradas, mas percebo que, a cada camada que se vai, me sinto mais próxima de mim, mais segura de me expressar, e sinto um quentinho em meu coração. Erros existirão, decepções, frustrações, mas talvez já não me façam questionar minha presença no mundo, nem a verdade silenciosa que tenho aprendido a sustentar dentro de mim.


Como diz Jung:“Sem o fenômeno da Consciência, não pode haver mundo, pois este só existe como tal enquanto reflexo e expressão de uma psique consciente. A Consciência é uma condição do ser.”(OC 10/1 — Presente e Futuro).


 
 
 

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